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Coragem

Coragem

Estava conversando com uma antiga amiga semana passada – nestes papos despretensiosos em que a gente joga conversa fora em troca de alguns bons momentos de amizade curtidos juntos. No meio da conversa, desabafamos sobre as nossas pendências eternamente incompletas. "Eu tenho uma dentista que não vou há seculos. Não me cuido, não faço visita periódica" ela disse "mas que agora tive que ligar para ela e pedir um remédio urgente, porque meu dente está inflamado". Mas porque não vai logo uma consulta ao invés de tomar remédio? A resposta foi simples: "eu não tive coragem".


Engraçado isso...

A gente diz "coragem" para quem vai enfrentar um momento difícil. Admiramos a coragem de terceiros em situações extremas, que consegue superar seus medos e tem atitudes que beiram a bravura e heroísmo. Respeitamos e adoramos figuras como salva-vidas, bombeiros... Não quero dizer que estes não sejam admiráveis – pelo contrário, o são e muito - mas é que geralmente associamos coragem a esse heroísmo de momentos singulares e esquecemos daquela dose de ousadia necessária ao enfrentamento das intempéries do dia-a-dia: nas amenidades de comportamento que temos e esquecemos – por medo, fuga, falta de tempo ou aquela "sem-gracice" atrás da qual nos escondemos quando quando temos que dizer um "não" para uma pessoa que espera por nós e que não podemos atendê-la.

Acho admirável, por exemplo, quem volta atrás em julgamentos errados. Porque errar, todo mundo erra (e essa sentença já virou clichê e até desculpa para amenizar a culpa por algum deslize) mas é assumir perante todos que faz a diferença. Mostra que a gente é coerente com as nossas idéias, mas que também não tem medo de mudar de opinião em público.

Respeito a coragem daqueles que dizem "não" quando necessário. Porque sempre vão aparecer pedidos de ajuda que não poderemos atender, despesas extras que não dá para arcar e convites irresistíveis que não são sensatos de aceitar. E dizer "não" nessas horas significa enfrentar uma um rosto de desapontamento, uma enxurrada de insistências, um clima "sem graça" de expectativa frustrada de terceiros: uma espécie de pequenas imposições que nos impelem a aceitar. E aí ficamos com aquela sensação de culpa de estar ausente, de não poder ajudar, quando que na verdade o que a gente quer mesmo é nos resguardar um pouco. Por isso, é importante deixar de lado essa falsa "mea culpa" e lançar mão da coragem educada que existe em um "não, obrigado!" firme, gentil e sincero. Uma ousadia que nos liberta de compromissos que não queremos (e principalmente, não precisamos) aceitar; e que ensina aos outros – e a nós mesmos – a respeitar nosso coração.

Considero coragem, sobretudo, o gesto de pedir desculpas. Admitir que se está errado não é, nem de longe, demostração de fraqueza. Coragem é pedir desculpas de coração sincero e humilde, sem nenhum pingo de humilhação ou de inferioridade. Mostra um respeito à pessoa de quem se está pedindo, e uma confiança inspiradora de quem pede. "Eu sei que eu errei e estou dando o primeiro passo para consertar". Simples assim: honesto, libertador, renovador...

Ter coragem é sinal de elegância. É exigir, com gentileza e nunca batendo de frente, o que a gente tem certeza que merece. Mostra coerência com nosso coração. E é sinônimo de autoconfiança, que, como tudo na vida, é uma questão de exercício.

Bom, minha amiga foi ao dentista. E eu volto para o Novo Minuto de Sabedoria após um mês de férias do trabalho (necessárias para colocar minha vida e minha cabeça no lugar). E vamos que vamos: treinando nossa coragem para assumir os errinhos e os desafios nossos de cada dia... E sem esquecer das nossas pequenas vitórias para celebrar...

Clarissa Nazareth reticencias@minutodesabedoria.com.br

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