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A rigidez que limita

A rigidez que limita

Você se considera ou convive com alguém rígido, inflexível?

A rigidez, inflexibilidade, a imposição constante de regras, limita as relações e impede a busca por outros caminhos, acreditando que aquele escolhido é o único certo.
O excesso de rigidez faz com que criemos um padrão mental de comportamento, podendo provocar um sentimento de autopunição que só traz sofrimento, aos outros e a si próprio. Podemos encontrar pessoas rígidas em todos os lugares, mas, se observarmos mais atentamente, podemos encontrar muitas vezes essa rigidez dentro de nós mesmos.
Por exemplo, quem quer eliminar uns quilinhos é muito comum colocar-se metas. Sim, é importante saber onde se quer chegar, mas fazer disso um tormento, com expectativas elevadas só a fará encontrar insatisfação e frustração.

“A rigidez está muito relacionada com a repressão da expressão de emoções e conflitos não resolvidos”.


Se a meta é eliminar um quilo em uma semana e só conseguir quinhentos gramas, ignorando tudo que foi feito para alcançar tal resultado, poderá fazer com que desista logo no início, reforçando o sentimento de não ser capaz. Ou seja, em função do excesso de rigidez, tudo que não for atingido conforme o programado é desprezado, como se houvesse a necessidade de se punir de algo que não foi realizado conforme as próprias regras.
Pessoas rígidas em geral sofrem de dor de cabeça, enxaqueca, impondo-se a si mesmas um grande sofrimento para atenderem a exigências interiores inconscientes. Estão quase o tempo todo tensas, não se “desarmam”, como se estivessem constantemente em perigo. Mas caso sejam questionadas se sofrem de conflitos internos não resolvidos, elas o negam, dificultando a resolução destes.
Muitas vezes são pessoas que provêm de famílias que atribuem grande valor a normas rígidas de comportamento, sendo punidas quando essas regras não eram cumpridas e onde a expressão emocional, quer de afeto ou agressividade era reprovada e reprimida. O bloqueio da expressão afetiva ou a repressão da agressividade podem gerar um sintoma físico como a dor de cabeça ou enxaqueca, como meio de expressar no corpo os afetos e sofrimentos não expressos verbalmente. Seria como se a pessoa não agredisse aos outros, mas a si mesma.
Ou seja, a rigidez está muito relacionada com a repressão da expressão de emoções e conflitos não resolvidos, podendo ainda estar relacionada com a repressão sexual. As crises de cefaléias ou enxaquecas podem ser muitas vezes utilizadas como desculpa para fugir da relação sexual, assim como o próprio excesso de peso.
Diante da incapacidade de comunicar com palavras o que sente, o corpo adoece como forma inconsciente de manifestar seu sofrimento. A repressão de qualquer sentimento é maléfica para a mente e o organismo, devendo ser evitada.
Excluídas as causas orgânicas, a dor de cabeça, enxaqueca ou dores musculares, podem se manifestar em função de uma tensão em face dos problemas do dia-a-dia e da relação insatisfatória e rígida que a pessoa mantém consigo mesma e com os outros. Ou seja, há uma contração de toda a musculatura, principalmente do pescoço, da nuca e da face.

“A repressão de qualquer sentimento é maléfica para a mente e o organismo, devendo ser evitada”.

Pode ser desencadeada também pelo estresse em função da sobrecarga que a própria pessoa se impõe, assim como da ansiedade crônica. Além disso, os estados crônicos de tensão ou estresse contribuem decisivamente para aumentar a pressão arterial, e a pressão alta pode causar a cefaléia, tornando uma verdadeira bola de neve. É claro que todos nós convivemos diariamente com algum grau de tensão física e emocional, mas existem pessoas que são rígidas 24 h e devem ficar atentas a esse comportamento.
Ser flexível não quer dizer perder a personalidade, ser volúvel ou fazer tudo o que outras pessoas querem, mas ser mais acessível à compreensão das coisas e pessoas, principalmente a si mesmo. É saber ouvir mais atentamente antes de interromper como se fosse dono da verdade ou como se houvesse apenas um caminho a seguir.
Podemos encontrar pessoas presas durante anos a conceitos e crenças antigas que apenas mobilizam e limitam o crescimento, onde não se permitem ampliar seu campo de visão ou de conhecimento, por acreditarem estar absolutamente certas naquilo que acreditam. A pessoa rígida não é só rígida com os outros, mas principalmente consigo mesma.
Impor regras, limites, horários, seguindo um padrão rígido de comportamento desgasta qualquer pessoa ou relação. Irritar-se por que o outro chegou cinco minutos atrasado ou não fez exatamente como você esperava, pode fazê-lo ter que lidar com sua frustração, mas como em geral nega seus próprios sentimentos, prefere impor que apenas seu jeito de ser ou pensar é o certo.
Pessoas rígidas estão sempre se impondo limites, muitas vezes porque na verdade, não se sentem capazes de ultrapassarem os seus próprios, sempre se escondendo atrás de regras que as fazem permanecer no mesmo lugar, onde tudo é conhecido e seguro, ainda que extremamente limitador. Atrás de toda rigidez encontra-se a não aceitação da naturalidade da vida, que por si só muda a cada momento, buscando se adequar para que haja um maior desenvolvimento e crescimento do ser humano e que não consegue ser alcançado onde há limites.

Rosemeire Zago
Psicóloga clínica com abordagem jungiana. Desenvolve o auto conhecimento e ministra palestras motivacionais.
http://www1.uol.com.br/cyberdiet/colunas/040517_psy_rigidez.htm

A força das palavras

A força das palavras

"Viemos ao mundo para dar nomes às coisas: dessa forma nos tornamos senhores delas ou servos de quem as batizar antes de nós".

Palavras assustam mais do que fatos: às vezes é assim.
Descobri isso quando as pessoas discutiam e lançavam palavras como dardos sobre a mesa de jantar. Nessa época, meus olhos mal alcançavam o tampo da mesa e o mundo dos adultos me parecia fascinante. O meu era demais limitado por horários que tinham de ser obedecidos (por que criança tinha de dormir tão cedo?), regras chatas (por que não correr descalça na chuva, por que não botar os pés em cima do sofá, por quê, por quê, por quê...?), e a escola era um fardo (seria tão mais divertido ficar lendo debaixo das árvores no jardim de casa...).
Mas, em compensação, na escola também se brincava com palavras: lá, como em casa, havia livros, e neles as palavras eram caramelos saborosos ou pedrinhas coloridas que a gente colecionava, olhava contra a luz, revirava no céu da boca... E às vezes cuspia na cara de alguém de propósito, para machucar.
Depois houve um tempo (hoje não mais?) em que palavras eram cortadas por reticências na tela do cinema, enquanto sobre elas se representavam cenas que, como se dizia no tempo dos pudores, fariam corar um frade de pedra.
Palavras ofendem mais do que a realidade – sempre achei isso muito divertido. Palavras servem para criar mal-entendidos que magoam durante anos:
–Você aquela vez disse que eu...
–De jeito nenhum, eu jamais imaginei, nem de longe, dizer uma coisa dessas....
–Mas você disse...
–Nunca! Tenho certeza absoluta!
Vivemos nesses enganos, nesses desencontros, nesse desperdício de felicidade e afeto. No sofrimento desnecessário, quando silenciamos em lugar de esclarecer. "Agora não quero falar nisso", dizemos. Mas a gente devia falar exatamente disso que nos assusta e nos afasta do outro. O silêncio, quando devíamos falar, ou a palavra errada, quando devíamos ter ficado quietos: instauram-se, assim, o drama da convivência e a dificuldade do amor.
Sou dos que optam pela palavra sempre que é possível. Olho no olho, às vezes mão na mão ou mão no ombro: vem cá, vamos conversar? Nem sempre é possível. Mas, em geral, é melhor do que o silêncio crispado e as palavras varridas para baixo do tapete.
Não falo do silêncio bom em que se compartilham ternura e entendimento. Falo do mal de um silêncio ressentido em que se acumulam incompreensão e amargura – o vazio cresce e a mágoa distancia na mesma sala, na mesma cama, na mesma vida. Em parte porque nada foi dito, quando tudo precisaria ser falado, talvez até para que a gente pudesse se afastar com amizade e respeito quando ainda era tempo.
Falar é também a essência da terapia: pronunciando o nome das coisas que nos feriram, ou das que nos assustam mais, de alguma forma adquirimos sobre elas um mínimo controle. O fantasma passa a ter nome e rosto, e começamos a lidar com ele. Há estudos interessantíssimos sobre os nomes atribuídos ao diabo, a enfermidades consideradas incuráveis ou altamente contagiosas: muitas vezes, em lugar das palavras exatas, usamos eufemismos para que o mal a que elas se referem não nos atinja.
A palavra faz parte da nossa essência: com ela, nos acercamos do outro, nos entregamos ou nos negamos, apaziguamos, ferimos e matamos. Com a palavra, seduzimos num texto; com a palavra, liquidamos – negócios, amores. Uma palavra confere o nome ao filho que nasce e ao navio que transportará vidas ou armas.
"Vá", "Venha", Fique", "Eu vou", "Eu não sei", "Eu quero, mas não posso", "Eu não sou capaz", "Sim, eu mereço" – dessa forma, marcamos as nossas escolhas, a derrota diante do nosso medo ou a vitória sobre o nosso susto. Viemos ao mundo para dar nomes às coisas: dessa forma nos tornamos senhores delas ou servos de quem as batizar antes de nós.

Lya Luft

VEJA on-line Ponto de vista: Lya Luft
Edição 1862, 14 de julho de 2004

Não Desista Nunca

Não Desista Nunca
Martha Medeiros


Se você não acreditar naquilo que você é capaz de fazer; quem vai acreditar?
Dizer que existe uma idade certa, tempo certo, local certo, não existe.
Somente quando você estiver convicto daquilo que deseja e esta convicção fizer parte integrante do processo.
Mas quando ocorre este momento? Imagine uma ponte sobre um rio.
Você está em uma margem e seu objetivo está na outra.
Você pensa, raciocina, acredita que a sua realização está lá.
Você atravessa a ponte, abraça o objetivo e não olha para traz.
Estoura a sua ponte.
Pode ser que tenha até dificuldades, mas se você realmente acredita que pode realizá-lo, não perca tempo: vá e faça.
Agora, se você simplesmente não quer ficar nesta margem e não tem um objetivo definido, no momento do estouro, você estará exatamente no meio da ponte.
Já viu alguém no meio de uma ponte na hora da explosão... eu também não.
Realmente não é simples.
Quando você visualizar o seu objetivo e criar a coragem suficiente em realizá-lo, tenha em mente que para a sua concretização, alguns detalhes deverão estar bem claros na cabeça ou seja, facilidades e dificuldades aparecerão, mas se realmente acredita que pode fazer, os incômodos desaparecerão.
É só não se desesperar.
Seja no mínimo um pouco paciente.
Pois é, as diferenças básicas entre os três momentos são: ESTOURAR A PONTE ANTES DE ATRAVESSÁ-LA.
Você começou a sonhar... sonhar... sonhar! De repente, sentiu-se estimulado a querer ou gozar de algo melhor.

Entretanto, dentro de sua avaliação, começa a perceber que fatores que fogem ao seu controle, não permitem que suas habilidades e competências o realize.
Pergunto, vale a pena insistir?
Para ficar mais tangível, imaginemos que uma pessoa sonhe viver ou visitar a lua, mas as perspectivas do agora não o permitem, adianta ficar sonhando ou traçando este objetivo?
Para que você não fique no mundo da lua, meio maluquinho, estoure a sua ponte antes de atravessá-la, rompa com este objetivo e parta para outros sonhos!
ESTOURAR A PONTE NO MOMENTO DE ATRAVESSÁ-LA.
Acredito que tenha ficado claro, mas cabe o reforço.
O fato de você desejar não ficar numa situação desagradável é válido, entretanto você não saber o que é mais agradável, já não o é! Ou seja, a falta de perspectiva nem explorada em pensamento, não leva a lugar algum.
Você tem a obrigação consciencional de criar alternativas melhores.
Nos dias de hoje, não podemos nos dar ao luxo de sair sem destino.
O nosso futuro não é responsabilidade de outrem, nós é que construímos o nosso futuro. Sem desculpas, pode começar...
ESTOURAR A PONTE DEPOIS DE ATRAVESSÁ-LA.
No início comentei sobre as pessoas que realizaram o sucesso e outras que não tiveram a mesma sorte.
Em primeiro lugar, acredito que temos de definir o que é sucesso.
Sou pelas coisas simples, sucesso é gostar do que faz e fazer o que gosta.
Tentamos nos moldar em uma cultura de determinados valores, onde o sucesso é medido pela posse de coisas, mas é muito mesquinho você ter e não desfrutar daquilo que realmente deseja.
As pessoas que realizaram a oportunidade de estourar as suas pontes de modo adequado e consistente, não só imaginaram, atravessaram e encontraram os objetivos do outro lado.
Os objetivos a serem perseguidos, foram construídos dentro de uma visão clara do que se queria alcançar, em tempo suficiente, de modo adequado, através de fatores pessoais ou impessoais, facilitadores ou não, enfim o grau de comprometimento utilizado para a sua concretização.
A visão sem ação, não passa de um sonho.
A ação sem visão é só um passatempo.
A visão com ação pode mudar o mundo.

Espelho Mágico

Espelho MágicoMário Quintana
Da observaçãoNão te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...

Do estilo
Fere de leve a frase...
E esquece...nada
Convém que se repita...
Só em linguagem amorosa agrada
A mesma coisa cem mil vezes dita.

Das Belas FrasesFrases felizes...
Frases encantadas...
Ó festa dos ouvidos!
Sempre há tolices muito bem ornadas...
Como há pacóvios bem vestidos.

Do Cuidado da FormaTeu verso, barro vil,
No teu casto retiro, amolga, enrija, pule...
Vê depois como brilha, entre os mais, o imbecil,
Arredondado e liso como um bule!

Dos MundosDeus criou este mundo. O homem, todavia,
Entrou a desconfiar, cogitabundo...
Decerto não gostou lá muito do que via...
E foi logo inventando o outro mundo.

Das CorcundasAs costas de polichinelo arrasas
Só porque fogem das comuns medidas?
Olha! Quem sabe não serão as asas
De um anjo, sob as vestes escondidas...

Das Utopias
Se as coisas são inatingíveis...ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!

Dos MilagresO milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloquência ao mundo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!

Das IlusõesMeu saco de ilusões, bem cheio tive-o.
Com ele ia subindo a ladeira da vida.
E, no entretanto, após cada ilusão perdida...
Que extraordinária sensação de alívio!

NÃO ESTÁ NO AURÉLIO

NÃO ESTÁ NO AURÉLIO

ABANDONO: Quando a jangada parte e você fica.


ADEUS: O tipo de despedida mais triste que existe.


ADOLESCENTE: Toda criatura que tem fogos de artifício dentro dela.


ARTISTA: Espécie de gente que nunca vai deixar de ser criança.


AUSÊNCIA: Uma falta que fica ali presente.


FOTOGRAFIA: Um pedaço de papel que guarda um pedaço de vida nele.


FILHO: Serzinho adorável e todo seu, que um dia cresce e passa a ser todo dele.


GELO: Aquilo que a gente sente na espinha quando o amor diz que vai embora.


LEALDADE: Qualidade de cachorro que nem todas as pessoas têm.


LÁGRIMA: Sumo que sai dos olhos quando se espreme um coração.


OUSADIA: Quando o coração diz para a coragem "vá" e a coragem vai mesmo.

Amor de pai e filha - Nunca Mais

Amor de pai e filha - Nunca Mais
Existe uma frase muito sábia "O que podes fazer hoje não deixe para amanhã".
Trata-se de um dito popular que tenho às vezes usado para pessoas que têm me procurado para terapias e se vêem diante de situações de desenganos, desacertos e de condutas pouco éticas por parte de parentes ou amigos.

Sempre costumo afirmar: deixem o orgulho de lado e vão à procura de um diálogo.

A benevolência, a humildade e a compreensão dos fatos sempre resulta em um final positivo para nossa consciência.

Chamo isto de limpar a mesa antes de colocar uma toalha limpa.

Falo por experiência própria pois grande parte da minha vida sofreu a influência de uma ação por parte do meu pai, aos meus 19 anos, e cujo resultado provocou um afastamento entre ambos.

Eu não queria dar o braço a torcer diante dos fatos e ele, por sua vez, em princípio agiu da mesma forma.

O tempo passou e o nosso relacionamento, embora amenizado, não passava de uma mera formalidade.

Simplesmente, não conseguíamos verbalizar nossos sentimentos.

Sempre que precisei dele em momentos de dificuldade da minha vida, mesmo sem pedir, ele sempre se fazia presente, mas depois por sua vez retornava à sua concha.

E assim passou-se ano após ano; encontrávamos às vezes aos fins de semana, na praia ou em festas familiares.

Eu, por minha vez, sabendo do seu imenso amor pelos netos, sempre que possível deixava ambos com os meus pais.

Se para mim ele havia se fechado em seus sentimentos, para os netos ele foi o companheiro ideal, o que demonstrava e falava abertamente para seus amigos.

Após muitas lutas e desacertos na minha vida, encontramo-nos por acaso no mesmo vôo, indo para São Paulo.

Ele seguiria para a Alemanha para uma exposição internacional e eu por minha vez estava indo para Salvador.

Foi naquele curto espaço de tempo, que ambos ensaiamos uma trégua, prometendo um ao outro que após a nossa volta iríamos nos encontrar e conversar novamente como pai e filha, deixando de lado as nossas desavenças.

Entretanto, o destino traçou um outro caminho para esse reencontro.

Ainda conversando com ele por telefone após sua volta, ficou combinado que naquele mesmo sábado eu iria até a sua residência na Vila.

Logo após o almoço, segui viagem até a sua casa, levando comigo o meu filho. A menina por sua vez já se encontrava com eles.

Na medida em que subia pela estrada particular até a sua residência, vi um tumulto em frente a porta de entrada.

Meu coração acelerou a mil, pois sabia imediatamente que algo havia acontecido.

Pensei na minha mãe, que já se encontrava doente, na minha filha que estava com eles, mas jamais imaginei que justamente ele, que sempre dizia ter uma saúde de ferro estaria deitado em cima do tapete, no chão da sala, morto.

O nosso entendimento de pai para filha aconteceu: comigo sentada no chão, tendo no meu colo a sua cabeça inerte.

Não vi o tempo passar, até que alguém colocou a mão no meu ombro dizendo que teriam que preparar o corpo para o velório. Ele parou para mim naquele instante e as imagens de toda uma vida que passamos juntos foram passando pela minha frente como um filme.

Foi quando tomei consciência que nunca mais poderia debruçar-me ao seu lado como o fazia quando criança enquanto ele desenhava, que nunca mais poderia acompanhá-lo quando ia decorar uma vitrine, que nunca mais passearia com ele pelos bosques e campos floridos e que nunca mais teria a oportunidade de fazer ou falar tantas coisas que não foram feitas e não foram ditas, abraços que não foram dados, carinhos que não foram trocados.

Mas como tudo passa nessa vida, os momentos felizes e também os infelizes, os problemas que vieram na seqüência me empurraram para frente sem tréguas e a vida continuou o seu rumo.

Por isso sempre aconselho: nunca deixe para amanhã o que podes resolver hoje.

Não deixe de enviar uma carta amiga, perdoar sem restrições, abraçar aqueles que amas e por eles és amado, de sorrir para alguém entristecido, de conversar com alguém solitário necessitado de um gesto fraterno, de apreciar as flores nos jardins, de alegrar-se com o canto dos pássaros ou com o barulho da chuva, de agradecer pelo sol que ilumina a terra, pela água benfazeja, apreciar um luar e agradecer principalmente por todas as oportunidades, pois cada momento da vida é único e merece ser vivido com plenitude, pois a tua paz depende somente de ti.

Quando chamada pela empresa em que trabalhava para retirar os seus pertences no que havia sido a sua escrivaninha, em cada folha de papel onde algo estava escrito, me deparei com um pai que eu não havia conhecido.

Tempos após, através de uma psicografia recebida de um centro espírita me pedia que não procurasse na arte da pintura a minha realização, como ele o havia feito; mas sim através da literatura.

Eis me aqui neste momento pai, realizando o que outrora me pediste.

Elke Tschersovsky
elke.t@terra.com.br
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