A ternura que encanta, abriga e dignifica
Roberto Curi Hallal, 2006
A ternura feminina que abriga e dignifica, motiva as almas a manterem-se vigentes e alertas porque a cada instante precisam repousar em algum abrigo.
O encanto e o amor produzidos por essa ternura precisam descansar como a poeira, para que não percam a visão e a lucidez inundando o coração de vãs esperanças, desqualificantes do amor. Um sentimento nobre precisa da cordialidade da vida e do viver. Quando um colo que cuida e aconchega, aceita desafios é porque por ali ronda a atração pertinente. Os mais desavisados se assustam quando neles aterrizam nobres cuidados das mulheres ternas oferecendo-se para preencher suas carências e vazios. Que eles não se atrevam a falar em voz alta despertando o conjunto das almas penadas que recorrem os caminhos em busca de abrigo, que não se divulguem os acessos aos abraços que acalmam e aquecem os corações desabrigados porque faltariam braços e abraços para conter a horda carente. Dignificados no recebimento, os abandonados acolhidos sem contrapartida relaxariam suas angústias, entrincheirados e protegidos das guerras cotidianas que mais do que vitórias, colecionam vazios e perdas. Cometidos da aversão ao sofrimento, acabariam algozes de si mesmos cada vez que se condenassem a realizar a dor de contribuir com o mal.
Os desempenhos das mulheres ternas cobrem de serenidade a fúria e ainda que pareça uma contradição, guerreiros e pacificadoras se somam para constituir uma força pacífica ou uma paz forte, uma vez instalado o estado de tolerância e de convencimento. Atiradas, as ternuras sobre o corpo, tiradas, as ternuras da alma, vertidas em cada espaço encontrado, sua assimilação instantânea prova a eloqüência da portadora e a sede daquele que a abriga. A mulher que faz o homem dar-se por vencido leva-o a renunciar a apropriação do domínio em benefício da partilha e de algo infinitamente superior: a conseqüência do amor. Amam-se perfeitamente, constroem a cada dia uma obra de arte. Dissipam o medo do compromisso, criam analogias com o passado, mas nada se compara porque a expressão da ternura encanta, abriga e dignifica abrindo uma porta à uma nova compreensão do amor. Criam-se várias e novas posições, disposições, predisposições, tornando inevitável um breve orgulho de sentirem-se superiores aos demais, aos simples mortais que ainda não foram banhados de ternura, essa virtude que interrompe as mágoas, as queixas e as dores. Cria-se assim, um estado de necessidade permanente, que ainda que efêmero, por sua temporalidade não faz perder o farol que indica o caminho compatível com o bem estar, um código de cuidados, um manual do agasalho.
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