:: Rosana Braga ::
Eram quatro naquela mesa... Conversavam animadamente. A certa altura, inevitável: começaram a falar sobre relacionamentos _ casamento, casos, traições...
Nem se eu quisesse conseguiria não escutar. Estava sentada bem ao lado, na mesa mais próxima, a menos de dois metros de distância, sozinha. E, confesso: o tema da discussão me interessava.
Era fácil perceber que ninguém ali tinha entre si qualquer ligação além de uma amizade circunstancial. Ela, uma mulher bonita, extravagantemente alegre, aproximadamente 40 anos, chamava a atenção por sua autenticidade. Ele, de idade equivalente, era notavelmente elegante. Seu olhar se esforçava para parecer seguro, mas pendia um pouco para o arrogante. Talvez apenas um excesso desnecessário.
Os outros dois – um homem e uma mulher um pouco mais jovens – comportavam-se mais como coadjuvantes no cenário em que se desenrolava o polêmico tema. Mas foi o homem mais jovem quem se atreveu a revelar primeiro: "casamento é complicado, difícil... Filho pequeno, menos de um ano, a mulher sempre ocupada... o jeito é ficar com as garotas pra agüentar o tranco!"...
Falou assim, como quem se redime de qualquer culpa, acreditando que sua justificativa fosse bastante plausível. A mulher mais nova quis saber: "você já saiu com a Queila, aquela do banco?"... E os detalhes iam sendo acrescentados aos casos, entre olhares espantados (dela) e empolgados (dele).
De repente, num instante que a mim pareceu, enfim, um mínimo de lucidez, ela – a mulher mais velha – inconformada, disparou a pergunta: "ô, cara! Você ainda acha divertido sacanear assim a sua mulher? Têm menos de 3 anos de casados, um filho que acabou de nascer e já se comporta desta maneira?!?"
Ao que o outro homem – o mais velho – saiu à defesa do amigo: "Poxa, Bel, o que tem contra os homens que ficam com outras garotas? Como você é preconceituosa!!!"
E ele estava falando sério! Deu-se o direito, inclusive, de se sentir indignado! Não era brincadeira... não era cinismo... não era piada de mal gosto!!! Ele estava realmente espantado com a inconformidade dela!
Tive que me segurar! Minha vontade era a de me levantar e dizer: "Opa!!! Tem alguma coisa errada! Acho que o senhor não sabe o significado das palavras 'preconceito' e 'ética'! Não são sinônimas!"...
Fiquei tão chocada com o comportamento dele que não consegui mais prestar atenção na conversa! Mergulhei num questionamento sobre o que anda acontecendo com os valores, a postura das pessoas, o posicionamento de cada um diante de um compromisso assumido e chamado de amor!
Preconceito, para mim, é subjugar alguém por causa de sua cor, raça, religião, opção sexual, doença ou deficiência, enfim, é discriminar as pessoas por questões que nada têm a ver com falta de caráter, de dignidade e de honra.
Agora, é preconceito não aceitar a traição?!? Será que se tornou preconceito também não aceitar atitudes como ferir e tripudiar sobre o outro? Não seria tudo isso uma escancarada e inadmissível falta de ética, de respeito e de honestidade?!?
Por favor, não estou dizendo que sou perfeita e nem que acho que as pessoas não sejam passíveis de cometerem erros! Cometemos, todos nós. Eu erro também, bem mais do que você talvez suponha! Mas peraí!!! Daí a chamar o espanto diante do erro de preconceito já é demais!!!
Já faz um tempo que venho me questionando sobre isso! Evito as generalizações a todo custo. Recuso-me, tanto quanto possível, não acreditar que todas as pessoas são iguais, mas me pego olhando para todos os lados e enxergando uma massa de pessoas que juram amor, mas traem, mentem, enganam.
Cheguei quase a duvidar de minha crença, perguntando a mim mesma: "será que trair não é tão errado assim?!?". Mas não posso concordar. Recebo, semanalmente, várias mensagens de pessoas sofrendo horrores por conta deste comportamento; sentindo-se destruídas, machucadas, profundamente feridas... Não pode ser certo!
E num momento de nova atenção à mesa ao lado, ouvi a mulher mais velha rebatendo, inflamada: "e se ela fizesse o mesmo com você?". Ao que os rapazes, como se tivessem combinado, responderam rapidamente: "ah, eu mato os dois!". E espantados consigo mesmos, entreolharam-se e riram.
Quer saber?!? Peço a Deus que me dê forças para continuar não traindo, porque isso só pode ser coisa de quem não tem a menor noção do que seja amor...
Rosana Braga é Escritora, Jornalista e Consultora em Relacionamentos Palestrante e Autora dos livros "Alma Gêmea - Segredos de um Encontro" e "Amor - sem regras para viver", entre outros.
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Email: rosanabraga@rosanabraga.com.br
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