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Poemas inéditos
Martha Medeiros

meu caro estranho, nossa estranheza nos levou à cama
e seguimos nos desconhecendo
não perguntei de onde vieram tuas cicatrizes
e não me perguntaste se eu já havia usado o cabelo mais curto
simplesmente nos beijamos e dispensamos todos os porquês
fui uma mulher qualquer e fostes mais um homem
e se esse descompromisso não merece ser chamado de amor
ainda assim não carece ser desfeito e esquecido

meu caro estranho,
mesmo nos amores não há nada muito além disso

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o que eu lembro de nós, e teria tanto pra lembrar, são apenas as mãos entrelaçadas
naquela tarde numa mesa de calçada, era um bar, nada mais havia para conversar
tentamos dizer as últimas palavras, dar um epílogo decente ao nosso amor
mas nenhum sentimento era soletrável, parecíamos dois gagos rumo à desistência
então tuas mãos pegaram as minhas, teus dedos brincaram com meu anel
e nem era um anel dado por ti, jamais perguntaste sobre meu passado
e meus dedos encaixaram-se entre os teus, e as pontas dos polegares roçaram-se
e os chopes esquentaram, o silêncio tomou posse da mesa, nossas mãos de uma ternura que seríamos incapazes diante do final, e é delas que eu lembro, não envelheceram
te amo com as mãos até hoje, te escrevo, agora escreva pra mim, com as tuas

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que valentia é essa de que me vanglorio? a valentia de atravessar a rua
mas é da covardia de não me enfrentar que me alimento e sangro todo dia

apontassem uma arma para o meio da minha testa eu urinaria minha coragem
que eu sou valente é para a molecagem e não para o que presta
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Quantas histórias que eu não escrevi por recato
Da vez em que quase fui estuprada mas ele escapou antes
Da vez em que chorei dentro do ônibus com um cachorro-quente esfriando nas mãos
Não havia jantar em casa, estava sem dinheiro e tive pena de mim
O cobrador também, mas cobrou a passagem mesmo assim

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um, dois e... quando me dou conta, já fui, me joguei
antes de contar até três disse o que não era para ser dito
fiz coisas que não era para ter feito
me arrebento rápido, nem dói de tão ligeiro
mentira, dói de qualquer jeito
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