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Martha Medeiros

Quando menos se esperaMartha Medeiros
06 de julho de 2008, n° 15654, Zero Hora.com


Algumas revistas, de vez em quando, resolvem dar uma facilitada para seus leitores e publicam matérias revelando qual é o melhor lugar para paquerar, assim como o melhor horário e os melhores alvos. "Onde, quando e quem", tudo de mão beijada para quem está à procura de um amor.


Não custa fazer o teste. Vá até o bar sugerido, na hora em que estiver mais lotado, e selecione seu objetivo conforme orientação da revista: alguém com determinada idade, modo de vestir, jeito de segurar o copo, tudo como foi indicado. Encontrou? Agora espere o garçom acordá-la e avisar que o bar está fechando, baby. Você pegou no sono e não aconteceu na-da. Não estou fazendo pouco da sua solidão, eu bem que estava torcendo por você, mas a maldita experiência ensina: quando a ansiedade é grande, as chances são mínimas.


Portanto, dê um tempo para as dicas dos outros e arrisque seguir as minhas. Pois é, eu também sei palpitar sobre o "onde, quando e quem". Principalmente quando estou sem assunto.


Onde menos se espera. É esse o lugar. Não é preciso fornecer endereço, bairro, CEP, até porque você não tem que ir a lugar algum. Onde menos se espera pode ser exatamente aí onde você está. Na fila do banco, numa farmácia, dentro da igreja, na ante-sala de um consultório, numa reunião de condomínio, na parada de ônibus, numa clínica veterinária, até mesmo dentro da sua própria casa. Juro, o amor pode bater à porta, conheço casos. Por exemplo, você está esperando um eletricista e, de repente, o eletricista vem acompanhado do arquiteto responsável pela obra. Blim-blom, e seu destino está traçado. O que nos leva ao parágrafo seguinte.


Quando menos se espera. É este o melhor horário. Mas há riscos. Digamos que o arquiteto bateu à porta quando você havia se programado para passar o dia trabalhando em casa, e, portanto, estava parecendo um molambo. Sabe o que é um molambo? Um pedaço de pano velho. Você escolheu pra vestir a coisa mais medonha e surrada que encontrou no armário e deixou para lavar o cabelo só no dia seguinte, quando pretendia ir a um bar procurar um amor e aquela coisa toda. A gente nunca sabe quando vai ser nosso dia de sorte, mas pode ter certeza de que ele não será anunciado com antecedência. Por isso, é bom estar sempre arrumadinha, mesmo que seja para descer até à garagem do prédio para buscar o celular que você esqueceu dentro do carro. Sabe como é, entre o seu apartamento e a garagem existe algo chamado elevador. Humm.


Por fim, quem! Quem menos se espera. Você fica de olho no dono da festa, mas é o pai dele - mais charmoso que o filho, aliás - que vem perguntar se você usa o MSN. Você encasqueta de querer ser mulher de jogador de futebol e cai um professor de literatura na sua rede. Você cumprimenta, toda alegrinha, o sujeito que cruza diariamente com você nas suas caminhadas de sábado, mas é o cara barrigudinho que lava o carro ali por perto que costuma avaliá-la com olhos mais atentos. Pode não ser animador, mas assim é a vida: você mira no plano A, mas é sempre o plano B que vinga.


Conclusão? Deixe de ser óbvia e tire os olhos do arquiteto. O eletricista é que é um homão, trabalha no que gosta, lê nas horas de folga, está solteiro e com a agenda lotada - ou você ainda não confia na ascensão dos prestadores de serviço? O arquiteto está matando cachorro a grito e ainda vai te pedir um troco pro ônibus.

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